O que é servido na merenda do seu filho?

Prefeitura de Indaial firma parceria com a ONG Crescer e Semear. Projeto é focado na qualidade da alimentação em escolas públicas.

Por Aline Christina Brehmer 15/03/2019 - 10:23 hs
Foto: Divulgação/PMI

“É na infância e adolescência que criamos raízes. Se não começarmos a olhar para a comida de verdade como algo essencial, apenas comendo sem se alimentar de fato, os problemas continuarão”.

A frase é da chef Lidiane Barbosa, idealizadora da ONG Crescer e Semear, que trabalha com um tripé formado pelas crianças, seus pais e/ou responsáveis e as merendeiras. No primeiro parágrafo dessa reportagem ela faz uma breve apresentação do projeto, que iniciou há cinco anos, e já transformou a vida de mais de 4 mil crianças.

Agora, essa ideia está sendo colocada em prática na cidade de Indaial. “A primeira-dama da cidade, Elaine Pickler Moser, veio me procurar e falar que tem interesse em melhorar ainda mais alimentação que as escolas públicas oferecem hoje na cidade. A partir disso, iniciamos nosso trabalho”, conta Lidiane.

Elaine, que tem seu bebê matriculado em uma Unidade de Educação Infantil do setor público, diz que a alimentação oferecida hoje nas instituições municipais não é terceirizada e, por consequência, já se torna mais saudável que em instituições de ensino de cidades próximas.

“Esse é um fator decisivo para implementar o projeto Crescer e Semear aqui. Por ser uma ideia que não conta com apoio financeiro da prefeitura, nossa fonte de captação é através dos investidores sociais e é nisso que estamos trabalhando agora. Visitando empresas e apresentando essa ideia”, complementa Elaine.

Lidiane destaca que o engajamento da sociedade é um dos pilares desse projeto. “O empresário que auxiliar nesse processo, automaticamente, contribui para a qualidade de vida das crianças que, por sua vez são, em muitos casos, filhos de seus funcionários. Então todos saem ganhando”, analisa.

Como fazer isso acontecer em Indaial?

A partir do momento em que esse apoio financeiro alcançar sua meta, será dado início aos treinamentos junto às merendeiras. “O que buscamos é formar um novo olhar para a alimentação saudável. Queremos que as pessoas entendam que é possível se alimentar bem sem gastar horrores para isso. Nunca levei alimentos caros para a merenda. Nós trabalhamos com a lista de insumos que já existem e eu retiro o que não dá para ter, como embutidos, purê em pó, entre outros produtos industrializados, priorizando assim o que é comida de verdade”, esclarece Lidiane.

A primeira cidade a aceitar essa proposta foi Blumenau. No total, foram envolvidas 13 escolas, 4.500 crianças (junto às suas respectivas famílias) e as merendeiras. Mas, para que a ideia se tornasse realidade, o apoio das secretarias de Educação e Saúde, assim como do prefeito, foi fundamental.

“Aqui em Indaial começamos com o pé direito porque já temos esse incentivo. Além da capacitação voltada às merendeiras, realizamos oficinas para as crianças e os pais também. Buscamos formas de trabalhar com uma alimentação saudável e, ao mesmo tempo, viável. Afinal, são milhares de crianças, então é preciso pensar em algo que seja possível de ser feito, por isso todo o trabalho é feito junto às merendeiras, com trocas de ideias”, comenta Lidiane.

“Se levante e faça a diferença você também”, Lidiane Barbosa

Junto ao projeto, Lidiane conta que fez questão de abraçar outra causa: o reconhecimento às merendeiras. Segundo ela, as profissionais relatam, de forma geral, que não se sentem valorizadas em sua profissão.

“Fui com estudantes até a cozinha para mostrar como tudo funciona e para que eles conhecessem quem são essas mulheres. Muito mais do que as “merendeiras”, elas se doam à causa para melhorar a qualidade de vida dos pequenos. Já aconteceu de faltar algum insumo, como a banana, por exemplo, e elas mesmas trouxeram de casa para poder fazer a biomassa. Isso é amor ao que se faz”, confidencia a chef.

Quando questiono Lidiane sobre a inspiração para criar o projeto Crescer e Semear, ela conta que a ideia foi ganhando força aos poucos, mas, quanto mais o tempo passa, mais certa fica de que ajudar as crianças é o melhor caminho.

“Muitas pessoas reclamam, sentadas em seu sofá, mas não mexem um dedo para mudar as coisas. Por isso decidi começar algo. Aos poucos a visão acerca de alimentação saudável vai se transformar para melhor, tenho certeza. É preciso apenas que alguém levante e aja. O exemplo motiva as pessoas”, diz.