Terra de tradição e respeito

Em visita às aldeias Laklãnõ (Xokleng), a prefeita de Doutor Pedrinho, Simoni Nones, revela sua inesquecível experiência durante dois dias convivendo junto aos indígenas

Por Aline Brehmer 18/05/2018 - 10:31 hs
Foto: Divulgação/Redes Sociais

O município de Doutor Pedrinho abriga, hoje, uma verdade riqueza cultural em seu distrito: é o único local no Brasil onde ainda moram indígenas do povo Laklãnõ (Xokleng).

A aldeia tem seu território reconhecido como Terra Indígena Laklãnõ, e suas terras se distribuem ainda por outras três cidades: Itaiópolis, José Boiteux e Vitor Meireles. No total, há nove aldeias: Aldeia Toldo, Aldeia Coqueiro, Aldeia Figueira, Aldeia Palmeira, Aldeia Barragem, Aldeia Pavão, aldeia Sede e a Aldeia Bugio, que tem uma extensão com os guaranis que é considerada pela liderança local da Aldeia Katuaty, que é guarani.

Mas, voltando a falar em específico de Doutor Pedrinho, o vereador da cidade, Helio Cuzum Farias, de 44 anos, relata ser membro do grupo indígena Xokleng. Em seu terceiro mandato (foi eleito pela primeira vez em 2004), ele revela já ter sido Cacique Regional da Aldeia Bugio em 2003, e diz que o preconceito com relação aos indígenas ainda está enraizado na cultura popular.

“Aqui em Doutor Pedrinho, moram cerca de 19 famílias, uma média de 40 pessoas. Quando me refiro ao preconceito que ainda sofremos e enfrentamos diariamente, é principalmente pelo fato de existir a questão latifundiária entre a comunidade indígena e as demais, que são vizinhas de nossa terra”, explica o parlamentar.

Mas, esse não é o único desafio enfrentado ali. A grande luta dos indígenas hoje, além do resgate da cultura e tradição, buscar e ensinar uma forma de manter os costumes do povo.

“Há muita falta de incentivo dos órgãos municipais e estaduais, afinal, tudo isso acaba gerando custos, que vão desde trabalhos feitos nas escolas ou em comunidade, até a realização de reuniões e palestras para a confecção de materiais didáticos indígenas”, esclarece.

Atuante no meio político do município, Farias garante que tem repassado as reivindicações de sua comunidade ao poder executivo e órgãos responsáveis, sendo o principal pedido voltado à manutenção das estradas. “Também batemos em cima do atendimento correto na saúde, sempre”, enfatiza.

Prefeita Simoni visita as aldeias

Como um alerta, a situação e os impasses entre as comunidades chegaram ao conhecimento da prefeita de Doutor Pedrinho, Simoni Mesch Nones. Antes de qualquer colocação ou posicionamento diante da situação, ela fez o que, até mesmo para os indígenas, se mostrou uma iniciativa inusitada: foi até as aldeias para não somente conhecer, mas também conviver com uma realidade diferente e, nas palavras de Simoni, “apaixonante e encantadora”.

A experiência que mudou a vida da prefeita aconteceu recentemente. Durante os dois dias em que realizou visitas ao local, fez questão de registrar os melhores momentos e também conhecer tudo: desde os costumes e cultura, até os problemas vivenciados pela comunidade.

“Há pessoas que falam que ali não há cultura, que os indígenas apenas sabem invadir terra. Estive lá, vivenciei tudo e comprovei que esses discursos não poderiam estar mais errados. Já faz tempo que estou tentando agendar essa vista e finalmente deu certo”, comenta Simoni, visivelmente feliz e agradecida pela experiência vivida.

Uma experiência inesquecível e enriquecedora

A visita de Simoni ocorreu em uma data especial: o Dia do Índio. Junto à comunidade indígena, ela pode presenciar as celebrações, que aconteceram durante três dias, regadas a muita tradição, respeito, cultura e emoção – sentimentos que foram compartilhados por todos.

“A alegria deles em perceber que estão sendo vistos com outros olhos, de uma forma mais respeitosa e preocupada, faz sim a diferença. As pessoas esquecem mas, na verdade, eles (os índios) chegaram primeiro e essa é a terra deles, merecem nosso respeito”, alega Simoni.

Diante disso, ela faz questão de frisar que, apesar de muitas pessoas verbalizarem a igualdade e aceitação do diferente, na prática, isso é algo raro de se ver. “Minha missão, enquanto prefeita, é quebrar esses paradigmas e essas barreiras, incentivando o conhecimento em busca de uma relação harmoniosa entre todos. Às vezes as pessoas não se gostam, mas nem sabem porquê. Acabam cultivando dentro de si sentimentos que vêm de tempo, mas hoje já não tem mais espaço em suas vidas”, analisa.

Participante ativa de dois dias de comemoração na aldeia, Simoni elogia o jeito de viver e de se comportar dos indígenas, citando, em especial, as salas de memorial e todo o capricho – visível a cada detalhe.

“O pouco que senti e aprendi com a crença deles já me mudou por completo. Eles são muitos hospitaleiros, adorei os momentos que passamos juntos”, agradece.

O vereador Farias, que acompanhou as visitas, garante que a resposta dos Xokleng é recíproca. “Foi uma honra para nós termos a presença da prefeita em nossas festividades. A imparcialidade dela foi admirável para a comunidade”, garante.