Cada gota a mais é um risco

O otorrinolaringologista Guilherme Galvani alerta para os perigos do uso excessivo de descongestionantes nasais

Por Aline Christina Brehmer 27/07/2018 - 15:36 hs

Neosoro, Sorine... medicamentos de fácil acesso, mas que se utilizados de forma excessiva podem causar graves problemas, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e derrame.

Nessa época do ano, em decorrência do frio e principalmente das oscilações na temperatura, gripes e resfriados são comuns, assim como outras problemas respiratórios. É dessa forma que muitas pessoas acabam descobrindo os benefícios imediatos dos descongestionantes nasais – e geralmente se tornando dependentes desses medicamentos.

Em entrevista à redação do Café Impresso, o otorrinolaringologista, doutor Guilherme da Cunha Galvani, diz que é difícil um profissional indicar o uso desse remédio – tirando situações de casos pós-operatórios –, e esclarece algumas dúvidas com relação à esse problema.

O que são os descongestionantes nasais?

Segundo o otorrino, quando a pessoa está com um quadro gripal ou respiratório, as estruturas dentro do nariz aumentam, consequência da inflamação que existe ali.

“Isso acaba causando um edema, que é o inchaço, o que faz com que a passagem de ar seja reduzida, gerando desconforto, falta de ar”, explica Galvani. Ele destaca que é justamente aí que entra a atuação dos descongestionantes nasais. “Quando esse edema que eu citei ocorre, os vasos de sangue dentro do nariz aumentam, ou seja, o fluxo de sangue nessa região fica maior. A partir do momento em que você usa o medicamento, essa artéria, esse vaso sanguíneo acaba murchando e, consequentemente, a pessoa consegue respirar melhor”, esclarece o profissional.

Porém, mesmo em um quadro agudo, a indicação desses medicamentos é rara. “Só prescrevo mesmo em casos pós-operatórios, nos quais suspeito que possa ter um sangramento ou algo parecido. Em quadros agudos como os citados anteriormente já não, justamente por achar que não é a melhor opção, afinal, há outras alternativas que têm função parecida com a do descongestionante, só que sem o risco de deixar a pessoa ‘viciada’”, analisa o otorrino.

Riscos da dependência

Doutor Galvani alerta que, quanto mais a pessoa utilizar os descongestionantes nasais, mais o nariz começa a se acostumar e, por consequência, o efeito começa a durar cada vez menos.

“Tenho pacientes que já chegaram a revelar que utilizavam um frasco em uma semana, ou seja, cerca de dez a 15 vezes por dia. Mesmo que pingue apenas uma gota do remédio, o problema é o excesso de vezes em que isso acontece”, alerta o profissional.

Segundo o otorrino, uma consequência grave desse uso excessivo é a rinite medicamentosa, que lesiona a mucosa (pele do nariz), deixando-a doente. “A pessoa fica tão dependente do medicamento que, em determinado momento, o próprio descongestionante não ajuda mais, sendo necessário entrar com outros remédios para fazer esse tratamento, mas o quadro se agrava cada vez mais pelo fato de o paciente ficar ansioso e realmente não conseguir mais respirar pelo nariz”, explica Galvani.

Uso pediátrico?

Segundo o médico, são os jovens que mais utilizam os descongestionantes. Porém, há também uma versão pediátrica desse remédio – que deve ser utilizada com ainda mais cautela pelos pais das crianças.

“Tenho pacientes que já me revelaram ter aprendido a usar porque a mãe lhe deu o remédio, e isso acabou virando um costume. O ideal é nem mesmo deixar esse remédio passar perto das crianças”, alerta.

Procure ajuda o quanto antes

Para Galvani, a dica principal aos usuários é: largar o quanto antes o vício. “É difícil, sem dúvida. Justamente por isso o auxílio de um profissional faz toda a diferença. Se a pessoa já usa há algum tempo, provavelmente sua mucosa já apresenta problemas e será necessário tratar isso com outros medicamentos. Mas, ainda assim, quanto antes a pessoa for procurar ajuda, mais rápido será possível reverter esse quadro”, reforça o otorrino.

Galvani complementa dizendo que, da mesma forma como a aquisição dos descongestionantes é fácil, a de outros antialérgicos também. “Há outras opções para diminuir o inchaço. O soro fisiológico por exemplo não faz mal algum e pode ser utilizado à vontade, mantendo a mucosa hidratada e limpa, sem lesões”, aconselha o médico.