Cada gota a mais é um risco
O otorrinolaringologista Guilherme Galvani alerta para os perigos do uso excessivo de descongestionantes nasais
O otorrinolaringologista Guilherme Galvani alerta para os perigos do uso excessivo de descongestionantes nasais
Neosoro, Sorine... medicamentos de fácil acesso, mas que se utilizados de forma excessiva podem causar graves problemas, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e derrame.
Nessa época do ano, em decorrência do frio e principalmente das oscilações na temperatura, gripes e resfriados são comuns, assim como outras problemas respiratórios. É dessa forma que muitas pessoas acabam descobrindo os benefícios imediatos dos descongestionantes nasais – e geralmente se tornando dependentes desses medicamentos.
Em entrevista à redação do Café Impresso, o otorrinolaringologista, doutor Guilherme da Cunha Galvani, diz que é difícil um profissional indicar o uso desse remédio – tirando situações de casos pós-operatórios –, e esclarece algumas dúvidas com relação à esse problema.
O que são os descongestionantes nasais?
Segundo o otorrino, quando a pessoa está com um quadro gripal ou respiratório, as estruturas dentro do nariz aumentam, consequência da inflamação que existe ali.
“Isso acaba causando um edema, que é o inchaço, o que faz com que a passagem de ar seja reduzida, gerando desconforto, falta de ar”, explica Galvani. Ele destaca que é justamente aí que entra a atuação dos descongestionantes nasais. “Quando esse edema que eu citei ocorre, os vasos de sangue dentro do nariz aumentam, ou seja, o fluxo de sangue nessa região fica maior. A partir do momento em que você usa o medicamento, essa artéria, esse vaso sanguíneo acaba murchando e, consequentemente, a pessoa consegue respirar melhor”, esclarece o profissional.
Porém, mesmo em um quadro agudo, a indicação desses medicamentos é rara. “Só prescrevo mesmo em casos pós-operatórios, nos quais suspeito que possa ter um sangramento ou algo parecido. Em quadros agudos como os citados anteriormente já não, justamente por achar que não é a melhor opção, afinal, há outras alternativas que têm função parecida com a do descongestionante, só que sem o risco de deixar a pessoa ‘viciada’”, analisa o otorrino.
Riscos da dependência
Doutor Galvani alerta que, quanto mais a pessoa utilizar os descongestionantes nasais, mais o nariz começa a se acostumar e, por consequência, o efeito começa a durar cada vez menos.
“Tenho pacientes que já chegaram a revelar que utilizavam um frasco em uma semana, ou seja, cerca de dez a 15 vezes por dia. Mesmo que pingue apenas uma gota do remédio, o problema é o excesso de vezes em que isso acontece”, alerta o profissional.
Segundo o otorrino, uma consequência grave desse uso excessivo é a rinite medicamentosa, que lesiona a mucosa (pele do nariz), deixando-a doente. “A pessoa fica tão dependente do medicamento que, em determinado momento, o próprio descongestionante não ajuda mais, sendo necessário entrar com outros remédios para fazer esse tratamento, mas o quadro se agrava cada vez mais pelo fato de o paciente ficar ansioso e realmente não conseguir mais respirar pelo nariz”, explica Galvani.
Uso pediátrico?
Segundo o médico, são os jovens que mais utilizam os descongestionantes. Porém, há também uma versão pediátrica desse remédio – que deve ser utilizada com ainda mais cautela pelos pais das crianças.
“Tenho pacientes que já me revelaram ter aprendido a usar porque a mãe lhe deu o remédio, e isso acabou virando um costume. O ideal é nem mesmo deixar esse remédio passar perto das crianças”, alerta.
Procure ajuda o quanto antes
Para Galvani, a dica principal aos usuários é: largar o quanto antes o vício. “É difícil, sem dúvida. Justamente por isso o auxílio de um profissional faz toda a diferença. Se a pessoa já usa há algum tempo, provavelmente sua mucosa já apresenta problemas e será necessário tratar isso com outros medicamentos. Mas, ainda assim, quanto antes a pessoa for procurar ajuda, mais rápido será possível reverter esse quadro”, reforça o otorrino.
Galvani complementa dizendo que, da mesma forma como a aquisição dos descongestionantes é fácil, a de outros antialérgicos também. “Há outras opções para diminuir o inchaço. O soro fisiológico por exemplo não faz mal algum e pode ser utilizado à vontade, mantendo a mucosa hidratada e limpa, sem lesões”, aconselha o médico.
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