Novas formas de salvar a vida?

Projeto Ketamim propõe forma inovadora e ultrarrápida no combate à depressão

Por Aline Christina Brehmer 15/02/2019 - 14:00 hs
Foto: Divulgação/Internet

“Até 2020 a depressão será a enfermidade mais incapacitante em todo o mundo”. Essa frase, forte e impactante, corresponde aos estudo e dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgadas no ano passado, comprovando que os casos de depressão aumentaram 18,4% desde 2005 em todo o mundo.

O Brasil foi considerando o país campeão de casos na América Latina, com 5,8% da população afetada pela doença. Hoje, a grande maioria das pessoas conhece alguém que convive e luta contra a depressão. Uma doença silenciosa e, em muitas situações, infelizmente fatal.

É ciente desse cenário e em busca de novas alternativas que possam salvar vidas que foi lançado o Projeto Ketamim, um estudo que avalia o tratamento do que é conhecido no meio como “depressão resistente”, ou seja, quando as pessoas acometidas por esse mal recebem tratamento terapêutico com mais de dois medicamentos antidepressivos ao longo do tempo e não melhoram da maneira desejada.

“Esse estudo propõe fazer uma comparação entre o tratamento tradicional para depressão resistente e o novo medicamento que se chama cetamina, o qual queremos aplicar em subdoses, com uma ação ultrarrápida e muito potente na resolução dos sintomas depressivos”, esclarece o coordenador do projeto, doutor Marco Aurélio Cigognini. Confira, a seguir, suas explicações e respostas sobre o novo método de tratamento.

Café: Qual é a proposta do projeto Ketamim?

Doutor Marco Aurélio Cigognini: Essa ideia, na verdade, envolve uma pesquisa que busca responder se a cetamina pode ser uma medicação alternativa no tratamento da depressão. É um estudo que vem acontecendo há mais de uma década e diversos centros independentes ao redor do mundo tem feito pesquisa com essas substâncias, mas geralmente eles têm usado a cetamina intravenosa, ou seja, aplicação do medicamento na veia, pesquisa.

Já o nosso grupo de pesquisa está indo por outro caminho, nossa busca é descobrir se haveria uma forma mais simples das pessoas se beneficiarem desse medicamento com uma resposta ultrarrápida e aplicação mais simples, intramuscular. É uma opção que vista diminuir gastos, além de ser mais acessível e cômoda, requerer estrutura e profissionais em menor, digamos, dimensão, do que nas aplicações intravenosas.

Café: Quem está envolvido no projeto?

Dr. MAC: A iniciativa do Projeto Ketamim é do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, conjuntamente com o Núcleo de Pesquisas da Saúde Mental, que é independente e formado por uma equipe multidisciplinar aqui em Blumenau.

Café: Como esse projeto irá funcionar? Já começou ou tem alguma data para iniciar oficialmente?

Dr. MAC: O projeto já foi aprovado pela Plataforma Brasil, que regulamenta, organiza e disciplina as pesquisas com seres humanos em nosso país. O Projeto Ketamim já se encontra em aplicação aqui em Blumenau e no Vale do Itajaí

Nossa equipe é composta por médicos, psiquiatras, neuropsicólogos, psicólogos e enfermeiros. Aqui a pesquisa já tem um ano de duração já e irá durar mais três. Gradativamente vão sendo inseridos novos participantes ao longo do tempo, sendo substituídos para que a gente atinja o número necessário de indivíduos para que a pesquisa seja válida.

Café: Quais são os critérios para participar desse estudo?

Dr. MAC: Aquelas pessoas que têm a denominada “depressão resistente”, ou seja, que utilizaram mais de dois antidepressivos e não obtiveram os resultados desejados com o tratamento, são potenciais participantes da pesquisa.

Se essas pessoas têm entre 18 e 40 anos, receberam o diagnóstico de depressão e foram submetidas a tratamentos medicamentosos infrutíferos elas podem participar. Os participantes podem ter diversos benefícios com a pesquisas, até porque para integra-la, a pessoa passa por uma série de protocolos a avaliações.

Café: Esse projeto abrange moradores de quais cidades?

Dr. MAC: Essa pesquisa é desenvolvida na nossa região, que envolve o Vale do Itajaí, ou seja, moradores de Timbó, Blumenau, Indaial, Rio dos Cedros, Pomerode, Benedito Novo e cidades vizinhas que tiverem interesse podem entrar em contato conosco e enviar um e-mail para coordenação da pesquisa, assim estaremos retornando essa mensagem para esclarecer dúvidas e agendar uma entrevista inicial para que a pessoa conheça o projeto e a equipe conheça a pessoa.

Posteriormente, há também o benefício de poder receber tratamento para depressão resistente com tratamento convencional ou acetamina ao longo de um período prolongado, no qual o paciente vai ser acompanhado pela equipe de pesquisa de maneira cuidadosa e zelosa. Dessa forma vamos observar cautelosamente os resultados do uso desse medicamento.